12 de dezembro de 2009 @ 03:14:00h

Sextatípica

Tudo começou um "simples" trabalho de fotografia. Droga, três trabalhos atrasados e uma tarde pra fotografar onze temas! Parece fácil, mas pega na mão uma câmera analógica, uma lente macro que pesa duas toneladas e meia, um tripé, um filme (com o ISO errado) e vai pra rua em dia de chuva. Isso resulta numa missão, além de cansativa, quase improdutiva. Custava fazer um solzinho pra não ter que gastar tanto dinheiro com táxi? Fomos ao Santa Maria Shopping para "erguer acampamento" e tentar tirar algumas fotos com luz "interna". O máximo que consegui foi decoração natalina pro teto e um senhor, que estava sentado do lado de fora do Sr. Café. Isso porque o Fabiano Dallmeyer não cooperou em ficar sentado tomando seu cafezinho. E ainda fez piada: "Se tu não achou o ponto verde em ISO 1000, é ÓBVIO que tu não vai achar em 100". Dã. Quer saber? Eu te adoro, mas vai te catar. Depois do almoço saí pra reencontrar a Ana e pegar o filme que mandei revelar. Aparentemente, pessoas se sentiram "incomodadas" com a nossa presença maquiavélica registradora no shopping e nos pediram pra parar de tirar fotos. Detalhe: sentar na cadeira do "Papai Noel" pra tirar "fotos" com câmera digital, atrapalhando o andar da carruagem pode, mas quando a situação se torna um pouco "menos sutil", não pode. Beleza de espaço publicamente privado, hein.

Eram 14h quando resolvemos nos instalar na Casa de Cultura, local de trabalho da minha mãe. Alguns minutos papeando pra esperar que Deus reclamasse do uso indevido de água pro São Pedro - e ele fechasse um pouco das torneirinhas das nuvens - e 'bora pra rua. Situação no mínimo engraçada: duas tongas com tripés dançantes que tentavam a todo custo achar o maldito ponto verde porque o céu estava nubladíssimo, e achar um pingo de luz com um filme ISO 100 é como um ser com rinite tentar achar um sorninan dentro de uma piscina de poeira. Deu pra sacar o drama, certo? Quase. Ouvimos de tudo, vimos mais um pouco. Algumas pessoas passavam olhando torto, principalmente os policiais; enquanto outras... Bem. Outras não sabem nem diferenciar uma filmadora de uma máquina fotográfica. Porque afinal, hoje é tudo compacto, tudo a mesma coisa, não? Hoje em dia, câmeras digitais fazem de tudo, menos passar café.

"Vocês estão fotografando coisas bonitas?", perguntou uma senhora. "Mais ou menos, são fotos artísticas", respondemos. Achamos que a tiazinha ia embora feliz com a resposta, mas ela não se conteve, e continou: "Deveriam fotografar o banheiro público! Só tem um cubo funcionando". Olha, falando sério, tiro o chapéu pra um ser de classe média com um pingo de higiene que se presta pra entrar naquele banheiro. Ele se encontra na praça Saldanha Marinho há belos dez anos ou mais e não pus os pés lá. Minha colega e eu nos entreolhamos e respondemos que, "infelizmente", o trabalho era mais direcionado. Bom, só faltou a dona torcer o nariz e perguntar que tipo de jornalistas nós seremos/somos/coisaqueoquevalha para nos negarmos a registrar a "podrice" de lugares públicos.

Outras duas moças passaram nos olhando como se fôssemos verdes, tivéssemos dois mil olhos cada uma, quatro braços em forma de tentáculo com trinta dedos com pontas de ventosas em cada um deles. Ah, e rastejássemos. E deixássemos um líquido ácido pelo caminho, no maior estilo do veneno da minhoca da Mongólia. Por Deus, pude ver as duas abraçando uma árvore que estava no caminho de tanto que nos olhavam, e riam... Nos olhavam e riam. #Penaquenaoregistreiacenafeelings, e acabaram-se os 140 caracteres só nesse tópico!

Outra cena atípica deste dia chuvoso que não posso deixar passar foi a tiazona-perua-escandalosa que passou por nós, gritando para continuarmos com as filmagens. essa foi de lascar tinta do cabelo. Esclarecendo: até continuaríamos a filmar se o aparelho usado nos permitisse, pode acreditar. Sua presença certamente seria cortada na edição, não se preocupe. Agora, uma mongolice de quem estava do "lado de lá": o ex-secretário de cultura passou por nós. Como amiga do tio Zanella, resolvi bater uma foto pra usar no tema de contraste de cores, porque ele vestindo tons de cinza e preto e logo na frente vinha uma senhora negra com uma blusa nas cores preto, amarela, cinza e branco. Até o resolver estava tudo muito bem, o problema é que a cor da pele da tia que estava na frente dele fez o ponto verde evaporar junto com as minhas esperanças, mas assim que ele estabilizou eu bati a foto e... Percebi que a velocidade de abertura do diafragma não coincidiu com o momento a ser captado. Sabe o que eu fiz? Me afastei e resolvi olhar a foto recém batida no visor LCD da minha imaginação, já que a máquina podia até ser automática mas ainda era analógica. É isso mesmo, sem comentários.

Então, eis que surge o presente do dia: a pequena (literalmente) Elisabete, de 20 dias de idade. Minha colega avistou a mãe da bebê e comentou sobre a beleza da guria, que deveria ter, no máximo, uns 20 anos de idade. Eu já havia percebido sua presença nas redondezas, mas não prestei atenção até aquele momento. Bati duas fotos de longe com a Sigma e me senti mal, bem mal. Fui até ela e puxei conversa, perguntei a idade dela, quantos meses a criança tinha e se podia fotografá-las. Ao contrário do que se pensa, a Lizandra não posou pra foto. Ela ficou ali, paradinha, no auge da timidez dos seus 15 anos sem esboçar nenhum sorriso. O marido chegou perto e eu perguntei ao patriarca da pequena família se eu podia mesmo bater algumas fotos. "Desde que tu não leve prum saravá, por mim tudo bem", respondeu ele. Não me contive e retruquei, enquanto caçava o tal pontinho do lado direito do visor: "Não, é só pra um trabalho da faculdade mesmo". Não contente com os ares tímidos, perguntei duas ou três vezes qual das duas ia sorrir primeiro, a mãe ou a filha. Na hora, Lizandra sorriu.

Internas dentro da Casa de Cultura no EMAET, na sala da mãe, no piano (com direito a mão da mãe sobre as teclas), piadinhas com o primo Benaduce, correria pra revelar as fotos, montagem do trabalho e um mutirão atrás da gente e do equipamento da faculdade. Detalhe: era a primeira vez que retirávamos material sem o professor estar junto, e não fomos avisadas que o equipamento precisava voltar antes do meio-dia pro campus. Fuzoê danado, post pra um dia de menos sono.

Lição um: comprar uma câmera analógica automática pros próximos trabalhos, e um tripé. Nunca se sabe o dia de amanhã. Lição dois: leve sempre o celular. Esqueceu em casa? Volte para pegar. Terceira e última, mas não menos importante: o sorriso da Lizandra valeu por dois. As fotos ficaram lindas.