17 de novembro de 2009 @ 06:22:00h

Fobia I - mariposas & derivados

A última crônica da Maíra Viana me fez pensar nas minhas fobias, de novo. De novo porque sábado esse pensamento me atacou duas vezes em horários diferentes, uma vez no domingo e duas hoje. Sinceramente, poderia ter vivido meus dias tranquilamente sem pensar a respeito. Se eu ainda jogasse RPG, a incitação de medo que essas criaturinhas me causam seria de nível 3, já que no nível 4 a pessoa se borra e no 5 é capaz de pular de uma janela se a fobia é de formigas, por exemplo. Não sou tão extremista mas também não fujo muito disso.

Sábado estava marcado para termos aula prática de fotografia, mas julguei que os planos mudariam graças ao tempo fechado e os filmes de ISO 100 que o professor sempre nos pede para comprar. Mas quando cheguei na faculdade com a minha colega (de aula e apartamento) e fomos avisadas pelos outros colegas que teríamos sim aula prática, não pude deixar de imaginar as câmeras pretas fofinhas usando capas e guarda-chuvas coloridos no melhor estilo jardim de "Alice No País das Maravilhas"! Tal cena me pareceu bem menos absurda naquele momento do que agora, mas é melhor seguir adiante do que perder a linha do pensamento.

Fomos à Gare da estação férrea. Da última vez que fui lá, o lugar não parecia tão... Enferrujado. Contado que fazem uns 20 anos desde a última vez, acho que era o mínimo que eu podia esperar. Nossa missão, como possíveis futuros fotógrafos, era fotografar. Pura e simplesmente apontar, regular o maldito ponto verde, disparar, avançar. Ah, e montar os tripés - que quase ganharam a batalha - e sair andando com eles pela plataforma afora. Essa briga eles venceram, sem sombra de dúvidas. Estou falando por experiência e não adianta me contrariar, não foi o seu dedinho esmagados pela união das perninhas do mal. Lá pela oitava foto que o professor querido resolve me lembrar da existência da brincadeira de esconde-esconde com o tal pontinho verde, até então já tinham ido umas oito fotos bem à moda louco. É que apontar e clicar soa bem mais divertido do que ficar girando botãozinho pra abertura do diafragma e girando lente Sigma dura pra caralho de trabalhar (com o perdão do palavrão mal empregado).

Apontei e cliquei, várias e várias vezes, principalmente os cachorros. Os cuscos da Gare são os vira-latas mais legais da cidade, fora a ilustríssima e intelectual Gorda - também conhecida por Batata Doce - que é figurinha carimbada nos eventos abertos da cidade. Onde tem barulho, ela estará por perto. Se não estiver, passa pelo Calçadão, dá uma procurada na sombra e faz carinho na barriga dela com o pé. Ela vive pra isso, a pequena notável. Enfim, onde eu estava mesmo? Ah é. Os cuscos. Tinha um colega meu que, de primeira, partiu pro mais difícil: fotografar pássaros. Confesso que lá pro final também tentei, mas o bicho foi mais rápido do que a brincadeira de esconde-esconde com o ponto verde.

Distraída com os animais de quatro-patas-e-um-rabo, acabei perdendo dois trens que passaram. Por algum estranho motivo, fiquei com a impressão que o meu professor achou que eu tivesse a capacidade (?!) de ser atropelada por um trem (!?!?!?). Eu estava parada do outro lado dos vagões (do que faz parte do monumento e, consequentemente, está parado) e ele foi me procurar. Quando me achou, me olhou nos olhos com uma cara de aliviado que chegou a dar dó (e muita muita muita vontade de rir, mas culpo a falta de cafeína por isso) e disse que ficou com medo por mim porque eu não estava junto com os outros. Gargalhei por dentro e voltei minha concentração ao Esfregão, cachorro que estava tão concentrado quanto eu nele, mas na roda de um trem.

O Esfregão, ao contrário da Gorda e de seus parceiros de estação, não é muito dado aos outros humanos. O humano deele basta pra ele, e só. Ele não gosta que o chamem, que passem a mão. Respeitei o limite dele e ele respeitou o meu, um ficou observando o outro por longos dez minutos. Ele só não rolou e se fingiu de morto porque não deu tempo, mas tenho a impressão que as fotos dele ficaram muito boas. Ele ajuda, faz carinha de cachorro pidão e tal. Aí a Ana, minha colega², começou a tirar sarro que eu estava perseguindo os cachorros da Gare. E isso me deu uma boa ideia: brincar de paparazzi (crianças, não tentem isso em casa)! Brincadeira frustrada no primeiro instante: Esfregão deve ter entendido os planos e estrategicamente parou fora do raio da câmera para urinar no pilar. Ou eu estava com tanto sono que nem me prestei para procurar, enfim... Dá no mesmo porque perdi o emprego de stalker de celebridades antes mesmo de conseguir trabalhar com isso.

Resolvi procurar outra coisa pra fotografar e quando me avisaram que haviam ratos, morcegos mortos e um cara dormindo no último vagão (teria me rendido uma bela foto, mas sou muito cagona - pelos animais, não pelo cara), resolvi procurar outra coisa "igualmente nojenta" para fotografar. Olhei pra Ana (foi um olhar analítico muito sério, sem pretensão nenhuma de piadae só agora me dei conta disso), olhei pro chão... E de repente, naquele canto remoto dos meus olhos, me deparo com uma coisinha voando, meio bege e constrastando com aquele céu cinza e cheio de pinguinhos.

Certamente devo ter berrado alguma coisa, já que essas bichas asquerosas têm mania de ficar muito próximas a mim. Parece que todos os bichos voadores invertebrados perdem a noção do perigo quando me enxergam. Tenho a impressão que nasci dividindo genes com aquelas lâmpadas azuis usadas para matar mosca, sabe? Porque todo e qualquer inseto é atraído em direção àquela luz. Ana fez um comentário que aquilo que eu estava olhando não era um bicho e o professor, coitado, me olhou com a maior cara de ponto de interrogação da cidade naquele momento pós-surto insético e fez o inoportuno comentário:

- Tem uma bruxa ali, se ainda quiser fotografar animais.

Acho que naquele momento fiquei tão inconsequente quanto, na viagem para Bento Gonçalves em Setembro do ano passado, quase me atirei na frente do trem para bater uma foto por ser monga e esquecer da existência do zoom, tamanha era a mongolice adrenalina. E foi justamente o que aconteceu: fui aproximando, aproximando, aproximando a câmera... E claro que o ponto verde não vinha nunca e eu ali, pulando por dentro, com medo que aquele monstro do tamanho da palma da minha mão virasse um alien de "AVP:R" e soltasse líquidos corrosivos no meu cérebro e me comesse viva.

Outra vez, uns quatro anos atrás, resolvi perseguir uma borboleta muito bonitinha em volta da piscina da casa de uma amiga minha. Constatei, depois dessa aventura, que correr em volta de piscina não é legal. Correr em volta de piscina depois de sair da mesma é menos legal ainda. Correr em volta de piscina depois de sair da mesma só para tentar superar um medo é burrice e ponto final.

No mesmo dia, me empenhei e encostei numa borboleta. Como bem previ, parecia que tinham jogado líquido corrosivo na minha mão e que ela, a borboletinha que mal cobriria o dedo do meio do meu pé de tão pequena que era, ia esperar eu me liquefazer para depois pousar calmamente ao lado de minha poça e fazer sua refeição. Aí eu inventei uma regra maluca que, pra isso não acontecer, eu precisava lavar minha mão. Devo ter passado uns cinco minutos bolinando o sabonete e mais cinco bolinando um paninho com álcool pra me certificar que não viraria refeição de uma borboletinha de araque.

Como surgiu tamanho trauma? Quando eu era pequena, sofria muito com alucinações quando tinha febre e, normalmente, envolviam insetos. Numa dessas vezes eu alucinei que estava sendo engolida por um demônio com cara de mariposa. No mesmo dia, alucinei que matava uma borboleta pequena e ela se transformava em tantas outras, formando a mesma imagem. Taí, prato cheio pra psicólogos.

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