19 de novembro de 2010 @ 23:41:00h
você está ouvindo?
Hoje em dia não existe antigamente como antigamente e, tratando-se de música, essa teoria (ou ditado, como bem queira) se aplica com ainda mais força. Houve um tempo em que os responsáveis pelos artistas trabalhavam com isso porque gostavam do que faziam e não conseguiam viver sem uma bela melodia e uma letra de tocar o coração, além de serem igualmente talentosos. As gravadoras queriam levar música de qualidade ao público, o lucro era apenas uma conseqüência grande parte das vezes e todos os envolvidos estavam de acordo com isso. Cinqüenta anos atrás, quem faturava com os artistas eram seus empresários. O multifacetado Rob Zombie foi um dos que se atreveu a colocar as cartas na mesa. “As gravadoras não querem mais saber de artistas de carreira, que o que elas realmente querem é que um de seus artistas estoure, para abandoná-lo logo em seguida”.
Quem busca saber sobre o que acontece na indústria fonográfica pode ficar irritado e triste ao extremo quando escuta alguma determinada rádio que é movida por zeros, e não por talento. É tanta repetição em uma hora de programação que dá náuseas, e a exorbitante venda de MP3 players a preço de banana se torna tão compreensível quanto louvável. Parece loucura, mas em 1979, Elvis Costello estava adiantando o porvir em sua música Radio, Radio. Um verso diz “e o rádio está nas mãos de tantos idiotas tentando te fazer não sentir nada”. Pare para pensar por um segundo nisso e se pergunte qual foi a última música que realmente tocou seu coração. Agora tente responder quantas vezes o artista responsável por ela ainda toca no rádio diariamente. Você acabou de experimentar o lado amargo da luta de alguns artistas.
São pouquíssimas as bandas que entram pro mainstream com capacidade e gana para mostrar porque merecem respeito e admiração. Algumas almejam tanto o sucesso que, quando contratadas pelos “monstros” da indústria, não dão importância nenhuma se toda sua bagagem musical seja trocada por uma fábrica de lucro. Não se importam se estouraram num dia e no outro, já caíram no esquecimento. O que vale de verdade é aquele bordão de Andy Wahrol, tão bem aplicado hoje em dia: são quinze minutos de fama que não passam de uma ilusão de tempo. Carreiras meteóricas, one-hit wonders, como os norte-americanos gostam de chamar aqueles que fazem sucesso com uma única música e sumirem na poeira e na sombra de seus concorrentes. Quer saber por que isso acontece? Porque os responsáveis pelos artistas e seus repertórios nos monstros da indústria fonográfica não tem capacidade para ver as coisas desse jeito. São engenheiros ou advogados que, por um golpe de sorte, ocupam um lugar de respeito de maneira sombria. Eles não sabem que a arte, seja como for, vem do coração. Eles não estão preparados para isso por sempre terem visto cifrões ao invés de notas musicais.
Para o amante da boa música, é reconfortante saber que existia uma época que a música tinha uma importância tão grande na vida das pessoas, e que qualidade era uma exigência incontestável. Desligue o rádio ou a televisão, e vá ler um livro ou um jornal ao som do que seu coração pede, não do que a mídia empurra goela abaixo com escândalos e declarações duvidosas. Desconecte-se disso. Dê atenção para aquele riff de guitarra, aquela batida de bateria e aquele verso que te aquece por dentro. Ainda que alguns deles estejam mortos há anos, não há remédio melhor para a alma. Saiba que existem algumas pessoas que lutam pela qualidade musical e amam de verdade o que fazem, e não esperam nada além de respeito e admiração em troca.
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